Sofia Gotti, Nova York-São Paulo, Julho 2017
Terre Haute (terras alta, montanha) é uma cidade no vale Wabash no estado de Indiana, E.U.A. Originalmente uma aldeia indígena chamada Weatuno, foi renomeada pelos exploradores franceses no começo do século XVIII, ápice da era das colonizações. Robert Indiana, figura no panteão dos principais artistas da Pop Art americana, usou esse nome em diversos trabalhos, fazendo interpretações da área atravessada pela estrada de ferro Wabash. Esses trabalhos “sobre geografia”, nas próprias palavras de Indiana, chamam a atenção crítica para os nomes traduzidos da cidade e do vale Wabash, que é a grafia em inglês da palavra que os índios Miami usam para falar ‘rio’.
Essa breve história captura muitas das questões que a Pop Art levanta, enquanto entendida como uma categoria artística internacional: nomeação, tradução, imperialismo e comercialização. O Pop surgiu internacionalmente ao final dos anos 1950 e começo dos anos 1960 em resposta a uma mudança no ritmo do dia a dia, à proliferação da mídia de massa e ao movimento de liberação sexual. Desafiando a separação entre ‘alta arte’, elitista por definição, e ‘arte popular’, caracterizada pela acessibilidade e seu uso de lugares comuns.
Dentro deste campo múltiplo, esta exposição apresenta uma seleção de trabalhos sobre papel de artistas do Reino Unido, Brasil e E.U.A., que começaram a mapear as inquietações de uma geração e que continuam a nos preocupar hoje em dia. Neste primeiro andar da exposição cada trabalho reflete a crítica Pop da mídia de massa, consumo e a frequente objetificação dos corpos femininos. Evitando um ordenamento cronológico ou geográfico, a exposição quer destacar as inúmeras conversas que podem surgir entre os trabalhos produzidos internacionalmente através de um período de cinquenta anos.
Um dos fenômenos determinantes da Guerra Fria foi a Corrida Espacial, uma competição entre a União Soviética e os Estados Unidos pela supremacia do espaço. Da cadela Laika, o primeiro animal a orbitar a Terra a partir de Moscou, até o pouso na lua de Neil Armstrong, a iconografia da exploração espacial era onipresente ao final da década de 1960, impulsionando uma noção de inovação tecnológica sem precedentes. A ânsia de explorar e redefinir um novo mundo para a humanidade durante uma época de crescente tensão militar, exacerbada pela ameaça da guerra atômica que surgiu na Segunda Guerra, foi adotada por artistas internacionalmente.
Os trabalhos nessa sala refletem o desejo de redesenhar geografias pessoais e a necessidade de resistir às superestruturas políticas que norteiam os conflitos armados, seja no Brasil da ditadura ou nos E.U.A. Dentro de um léxico Pop os astronautas de Claudio Tozzi redirecionam a espetacularização da Corrida Espacial. As releituras de Gerard Malanga da série Morte e Desastres de Andy Warhol [Death and Disasters Series] questiona o que acontece quando a tecnologia se volta contra nós. Simultaneamente, os mapas de Anna Maria Maiolino e Anna Bella Geiger reimaginam as paisagens e fronteiras terrestres.
08.07.2017
Postado por: Micasa
Categoria: Arte
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